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Maceió/Al, 19 de maio de 2024

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
14/12/2023 às 19:48

Questões sobre o Desenvolvimento de Alagoas: Uma Interpretação

Em 1950, o economista americano A. Lewis desenvolveu um Modelo Dualista para interpretar e iniciar o debate sobre as questões do desenvolvimento e, consequentemente, do subdesenvolvimento de uma localidade. Para Lewis, o subdesenvolvimento de um País aparece devido a justaposição de dois sistemas socioeconômicos diferentes numa mesma região: os setores tradicionais (subsistência) e os setores modernos (capitalista). Ou seja, a convivência dos dois modelos econômicos em estágios diferentes coabitando, ao mesmo tempo, numa mesma região.

Analisando o desempenho de Alagoas a luz dos dados do IBGE, observamos que as atividades econômicas realizadas nos municípios do estado produziram, em 2020, um PIB (produto interno bruto) da ordem de R$ R$ 63,2 bilhões, representando 5,2% do PIB do Nordeste.

Quando observamos esse desempenho distribuídos nas três mesorregiões do estado, em termos de valores absolutos do PIB de Alagoas, os dados do IBGE apontam que região do Sertão contribui apenas com 7,2% para o PIB do estado, enquanto que, os municípios do Agreste participaram com 19,5% de tudo que foi gerado em 2020. Os demais municípios da região Leste totalizam o montante de 73,3% de toda a produção estadual. Ver figura abaixo.

É importante destacar que, a região do Sertão e a região do Agreste, juntas, possuem 50 municípios, dos 102 municípios do estado de Alagoas, ocupando aproximadamente 50% da área do estado.

A figura acima denuncia que a geração da renda em Alagoas, todavia, não se dá de forma uniforme em termos regionais. Mesmo ocupando a metade da área e abrigando praticamente 50% dos municípios do estado, o PIB do Sertão e do Agreste, somados, representam apenas 25% do PIB de Alagoas, enquanto que, os demais 52 municípios localizados na região Leste, ocupando a outra metade da superfície do estado, respondem por cerca de 75% do PIB estadual, demonstrando um claro desequilíbrio regional.

 Sobre a matriz produtiva do estado, constata-se, ainda, que a economia do Sertão continua baseada na produção agrícola de subsistência. Mesmo com a obra do Canal do Sertão em andamento, constatamos que ainda não houve implantação de perímetros irrigados previstos pela CODEVASF para a região, existindo apenas ilhas isoladas com emprego de inovação tecnológica. A economia do Agreste, no entanto, tem apresentado dinamismo importante, notadamente influenciada pelo predomínio econômico da cidade de Arapiraca, que responde por quase 40% do PIB da região. A região Leste abriga a parte mais dinâmica da economia de Alagoas. Nela está implantado os setores mais dinâmicos do estado, como o sucro-alcooleiro alagoano, químico-plástico, turísticos, entre outros, além de concentrar cerca de 60% dos serviços de educação superior e saúde do estado.

Para se ter ideia do tamanho da desigualdade existente entre as mesorregiões do estado, basta constatar que dentre os municípios classificados como os 10 maiores PIB do estado, apenas dois estão situados no Agreste alagoano, Arapiraca e Palmeira dos Índios, enquanto que, as outras oito principais economias de Alagoas localizam-se na mesorregião Leste.

Pelo que observamos, existe uma dualidade na concepção do desenvolvimento de Alagoas. A economia alagoana está vivendo estágios diferentes no processo produtivo das suas diversas regiões, conforme preconizava Lewis. A manutenção da coabitação dessas diferentes etapas compromete o nosso processo de desenvolvimento. Torna-se necessário o aparecimento de uma convergência nos moldes produtivos nas diversas regiões do estado, com incremento de políticas públicas específicas visando diminuir o tamanho da desigualdade existente.

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